terça-feira, 31 de março de 2015

Amizade sem tabus…

No outro dia uma amiga confidenciou-me, um pouco a custo, que estava a ter alguns problemas no seu relacionamento. A natureza da confidência não me estranhou… o que me estranhou foi a forma envergonhada como ela me contou o assunto.
No início entrei em choque pois tratava-se de uma das minhas amigas mais antigas e a primeira a aventurar-se nos caminhos do “amor maduro”… Nunca esperei tal reacção da parte dela quanto à questão no entanto, após lhe ter dito tudo o que achava sobre a situação e ter ajudado partilhando os meus "conhecimentos" e vendo que ela estava cada vez mais envergonhada conforme ia ouvindo o que eu estava a dizer, percebi que estávamos perante um tabu… Conheço-a desde criança mas realmente nunca tínhamos falado do assunto tão abertamente como estávamos a fazer naquele momento.
Depois dessa situação apercebi-me que de todas as minhas amigas/confidentes talvez apenas com duas ou três tinha falado tão abertamente sobre o assunto sem qualquer crítica associada e sem falsos moralismos.
Trata-se de algo tão natural como respirar mas nós ainda temos receio de que nos critiquem… 
Fomos ensinados a esconder e guardar para nós tudo o que não era considerado dentro dos padrões normais da moral… 
Em quem devemos nós confiar se não for nas nossas amigas mais próximas? E como podem elas ajudar-nos se não sabem os nossos receios mais íntimos? Se apenas partilharmos parte dos nossos problemas podemos receber conselhos assertivos?
Quantas vezes não guardamos para nós situações que consideramos estranhas com medo de sermos criticadas, tudo para mais tarde ao ouvirmos algum comentário alheio virmos a descobrir que afinal era tudo normal? Não seria mais fácil se colocássemos os tabus de parte e pudéssemos confidenciar a nossa alma completamente às nossas amigas mais próximas?
Afinal o que é a amizade?
Amizade não tem preconceitos, julgamentos ou críticas. A amizade deve ser pura. Os nossos amigos são a família que nós escolhemos adoptar.

Em quem afinal confiaremos se não na família que escolhemos acolher no nosso coração?

sábado, 28 de março de 2015

Amizade em “manutenção”!

Hoje dei por mim a pensar no verdadeiro significado de amizade…
Lembro-me de quando era mais nova a minha mãe dizer por diversas vezes que os amigos se contavam pelos dedos e que tudo o resto era apenas conhecidos.
Na altura não liguei a este comentário. No entanto crescemos e começamos a perder cada vez mais “amigos”.
Por circunstâncias da vida tive de me mudar para a Madeira. No início recebia imensas cartas (sim… os telemóveis ainda não eram assim tão usuais e não se falava ainda de emails…). Por mês era capaz de receber 5 a 6 cartas… E às vezes até de pessoas que nem imaginava que alguma vez me fossem escrever. Sabia bem receber aquelas cartas que ainda hoje guardo numa caixa cheia de recordações maravilhosas. Com o tempo as cartas foram diminuindo até que deixaram de chegar.
Com o desenvolvimento da tecnologia voltei a contactar algumas dessas pessoas mas será que os podia ainda chamar de amigos?
Ao voltar para Lisboa para ir para a faculdade uma das minhas melhores amigas veio também. Tínhamos aulas em salas seguidas e o mesmo horário escolar. No início combinávamos diversas coisas para fazer mas após o Natal do primeiro ano algo mudou pois deixei de receber convites dela. Não me apercebi de imediato pois estava entretida a viver a “experiência académica”, mas acabei por perceber com o tempo que os nossos interesses já não eram os mesmos e naturalmente, sem ser necessário uma palavra sobre o assunto, acabamos por nos afastar de vez… Não eram necessárias palavras para constatarmos que já não éramos as mesmas pessoas e que estávamos a viver a mesma experiência de forma diferente.
Será que para manter uma amizade temos de estar constantemente a relembrar a pessoa de que existimos? Manter de alguma forma o laço que nos une? Combinar um programa com alguma frequência?
A minha resposta terá de ser negativa. E porquê?
Porque as minhas amigas não são do tempo de faculdade, ou do tempo da escola, ou de algum trabalho… São pessoas que fui “adquirindo” durante a vida e pelos diversos sítios pelos quais passei. Todas são diferentes de mim… Muito diferentes!!! Mas de alguma forma completam-me e mantêm-me presa ao chão quando quero voar de mais.
Não preciso de lhes ligar todos os dias ou todas as semanas. Não preciso combinar nada com elas com nenhuma frequência. Mas quando estou com elas é como se o tempo não tivesse passado. É como se nunca nos tivéssemos separado. E acima de tudo sei que quando preciso delas elas estão lá… mesmo que seja para me chamarem à razão ou dizerem que sou idiota.
Porque a amizade é isso mesmo! É saber que se agirmos mal ou estivermos a seguir um caminho “perigoso” há alguém que nos vai chamar à razão para nosso benefício… por mais que isso nos doa e sem qualquer crítica associada.
Sim também tenho amigos que me dão sempre razão e me dizem que estou linda mesmo que saia à rua de fato-de-treino e sem maquilhagem. Mas quando eu preciso mesmo de uma opinião sincera não é estes que chamo.
Acho que no fundo temos diversas camadas de amigos. Uma escala que vai do melhor amigo (quase irmão) ao simples conhecido.
Eu hoje dou razão à minha mãe em diversas coisas. E esta é uma delas! Amigos, aqueles que estão sempre prontos a ouvir-me, nem que seja a milésima vez que repito “que ele é tão lindo!”, ou “que estou gorda”, ou que preciso urgentemente sair à noite ou ir ao café para descontrair… esses amigos são poucos, são raros mas são os melhores! E não precisam de “manutenção” porque podem passar dias, semanas, meses ou anos sem falarem comigo mas sabem que se precisarem lá estarei, como se tivéssemos falado ainda no dia anterior.
Os verdadeiros amigos não necessitam de “manutenção” porque se conservam ao teu lado, mesmo que não o façam fisicamente.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Não me quer…mas não me larga…

De certeza já tiveram aquele amigo que queriam que fosse mais do que isso… Se não amigo, talvez um conhecido ou um ex-namorado que por mais que tentem não conseguem tirar da cabeça.
Pois é… Já todas passamos por esta situação.
E pergunto será que este sentimento é só da nossa cabeça? Surge do nada sem encorajamento da outra parte?
Esta tem sido uma conversa que tenho tido com diversas amigas porque num momento ou noutro todas passamos por isto.
O que reparei? O que temos em comum?
Poderia dar-vos exemplos concretos das situações que me levaram a uma conclusão… No entanto de certeza que todas passaram por alguma situação semelhante.
Em algum ponto da nossa vida ouvimos alguém dizer-nos que o melhor é acabar a relação porque não nos quer prejudicar, ou porque não nos consegue amar como merecemos.
Já ouvimos alguém dizer que está numa fase complicada, que não tem tempo para relacionamentos e que merecemos muito mais do que nos pode dar.
Já ouvimos alguém dizer que só nos vê como amigas e que não quer estragar a amizade que temos porque é muito importante para ele.
Quantas vezes ouvimos dizer que talvez se fosse noutra altura as coisas correriam de outra forma, mas passados dias, semanas ou meses aparece alguém que os faz mudar de ideias?
É verdade… Já todas ouvimos estas conversas… Mas porque será que continuamos ao lado deles? Porque continuamos à espera que eles vejam como somos especiais?
Porque a verdade é que embora diga que não nos quer continua a mandar mensagens sempre que ficamos alguns dias sem dizer nada.
Porque quando tem um problema é a nós que liga para “desabafar”.
Porque tem namorada mas mesmo assim sente falta de intimidade.
Porque nos diz que somos especiais e que temos imenso em comum e que se fosse noutra altura nem pensaria duas vezes.
Porque quando finalmente conhecemos alguém que nos trata como merecemos ou simplesmente alguém nos chama a atenção fica enciumado e nos diz que merecemos muito melhor.
Porque ninguém é suficientemente bom para estar connosco.
Enfim, basicamente não nos quer… mas também não nos larga. E porquê?
Bom, talvez porque gosta da segurança de que quando não tem mais ninguém tem aquela “parva” na prateleira que vai enchendo o seu ego… A quem meia dúzia de palavras ou beijos de vez em quando basta para a manter ali por perto…
E nós ficamos… Ficamos porque quando ele nos dá a sua atenção o mundo para. Porque só um sorriso dele tem o poder de nos derreter. E acima de tudo porque temos a esperança que ele perceba que nós somos especiais e que na realidade sempre nos amou mas andava cego…
Mas quem está cego na realidade somos nós.
Porque se fossemos assim tão importantes ele não olharia para mais ninguém. Ele não iria querer estar com mais ninguém. Ele não arranjaria desculpas para não estar connosco.
Quando um homem gosta de verdade ele vai atrás. Descobre como te chamas, arranja desculpas só para passar um segundo contigo, manda mensagem, não porque já não sabe de ti há muito tempo, mas porque quer saber realmente como foi o teu dia. Quando marca um programa contigo não convida outras pessoas para irem também porque não quer dividir a tua atenção com mais ninguém.
Se não é assim…então na verdade ele não te quer…
Mas não me venham dizer que nós criámos tudo na nossa cabeça porque não somos “maluquinhas”.
Podemos achar alguém interessante mas se desde o início percebemos que não há interesse da outra parte acabamos por ficar amigos e eventualmente conseguimos esquecer e conhecer alguém que nos ame de verdade.
Desde muito cedo nos impingem a ideia romântica de que os podemos “mudar”. Que é romântico lutarmos até ao infinito porque no final vai valer a pena. Mas se permanecemos ali “à espera” é porque de certa forma eles nos mantêm ali. Porque colocam “likes” em todas as fotos que postamos. Porque nos mandam mensagens a “reclamar” que já não dizemos nada há muito tempo ou que andamos desaparecidas. Porque embora esteja muito ocupado durante a semana quer estar connosco ao fim-de-semana. Ou porque espera que larguemos tudo e vamos a correr sempre que nos chama.
E depois sentem-se ofendidos se dizemos que não é normal este tipo de “amizade” ou que queremos mais do que estão a oferecer. Porque foram honestos connosco desde o início e que nunca nos enganaram…
É verdade… mas também não foram honestos… Porque se não nos querem e se só querem ser nossos amigos então não nos mantêm ali à espera deles. Um amigo incentiva-me a encontrar alguém que goste realmente de mim e não tem ciúmes de qualquer rapaz que se aproxime nem me envia mensagens só para me recordar que existe.
Afinal, se não é a mim que está a enganar é a quem? Talvez a eles próprios… Porque “não sabem o que querem”. Ou talvez saibam mas não têm coragem de estar sozinhos até encontrarem o que realmente querem.
Uma vez um amigo disse-me que só estava com a namorada porque não aparecia ninguém melhor… E porque somos muito amigos e estamos à vontade para falar de tudo e porque acima de tudo aquele comentário me revoltou acabou por ouvir o que queria e o que não queria. O mais incrível é que quando a relação terminou porque ela percebeu que merecia mais do que ele lhe dava ele veio a chorar ter comigo porque afinal amava-a. Ela era a mulher da sua vida…não sabia o que ia fazer da vida sem ela.
Eu não sou fria. Nem gosto de ver as meus amigos sofrerem… E quem me conhece vai perceber o motivo pelo qual fiz o que fiz… Mas eu comecei a rir… E mentalmente bati palmas para aquela rapariga que percebeu que era apenas um ponto de passagem na vida daquele rapaz e que merecia muito mais do que ele lhe estava a oferecer. Hoje sei que ela nem sonhava o que ele dizia. Apenas pressentiu que ele não a amava de verdade e decidiu terminar uma relação que não a fazia feliz e procurar por algo verdadeiro.
Claro que depois do riso inicial, e ao ver a cara de espanto do meu amigo que tinha ido à procura do consolo que apenas os nossos amigos nos podem dar nestas ocasiões, eu relembrei-lhe a conversa que tínhamos tido e lhe disse que provavelmente o que ele sentia era medo de estar sozinho… De não encontrar mais ninguém que o tratasse bem. Não foi automático mas ele veio a dar-me razão. Neste momento está num relacionamento e faz por esta namorada o que não fazia pela outra. Às vezes na brincadeira e sem que mais ninguém nos ouça eu digo-lhe: “Então, ainda procuras por algo melhor?” Ele pisca-me o olho e dá-me um sorriso que diz tudo.
Não se enganem… Parte de nós acabar com este ciclo vicioso. Porque somos nós que temos de ter a força de nos afastar de vez. Porque somos nós que fazemos a nossa felicidade e porque qualquer rapaz que não nos faz feliz não merece a nossa atenção.

quarta-feira, 25 de março de 2015

"Conto de Fadas"

No outro dia uma amiga dizia-me que nunca se imaginou aos 28 anos estar na situação em que se encontra…
Na verdade, e muito devido aos contos de fadas que nos “impingem” desde muito cedo, temos uma ideia muito errada do que a vida vai ser.
No meu caso, sempre imaginei que aos 18 anos iria para a faculdade, onde faria as melhores amizades da minha vida. Namoraria (e como nunca fui pudica não seria com dois ou três rapazes… mas também não seria com a equipa de futebol da faculdade) e eventualmente iria conhecer o Homem da minha vida. Aos 23 anos terminaria o curso e arranjaria um trabalho decente e aos 25 casaria…
Este era o plano idílico que tinha na minha cabeça desde os quatro anos, altura em que decidi qual a profissão que pretendia seguir.
Devo acrescentar que aos nove anos, quando descobri a história romântica de como os meus avós se casaram (fica para outra altura…) comecei a sonhar com o meu próprio casamento.
Nada disto se concretizou como é óbvio… Acredito que exista muita gente que tem a “sorte” de ter tudo com o que sonhou… Não é o meu caso nem o caso do meu grupo de amigos. Mas, verdade seja dita, aos 28 anos não me sinto minimamente inclinada para levar a vida que imaginei que teria nesta altura. E não me arrependo de nenhuma opção que tomei ao longo da vida.
As minhas melhores amigas não foram minhas colegas de faculdade no entanto sei que posso contar com elas para tudo (até para mandarem vir comigo quando estou a “passar das marcas”). Namorei e conheci rapazes fantásticos e outros (vamos dizer) menos bons, e por duas vezes pensei ter encontrado o Homem da minha Vida. Não encontrei ainda o trabalho que me vai fazer feliz e cada vez mais me convenço que aos 18 anos nada sabia da vida para escolher o curso que iria tirar. E acima de tudo não tenho filhos nem me vejo a querer tê-los num período tão próximo.
A minha amiga encontra-se a realizar um sonho antigo e pelo qual lutou grande parte da vida. Já teve grandes desilusões amorosas porque dá tudo dela na relação e recebe muito pouco em troca. Neste momento, embora devesse estar feliz porque finalmente está a começar a seguir a vida com a qual sonhou, não consegue… E porquê? Pois claro… Tinha que ter um homem para estragar a sua felicidade total…

Porque será que nos deixamos envolver de tal forma que uma simples pessoa pode estragar a nossa felicidade só por respirar? Como podemos deixar que a sua existência nos afecte de tal forma que só o facto de o vermos nos deixa mais feliz que comer um pedaço do melhor chocolate do mundo? E pior… porque é que o nosso dia só faz sentido quando ele passa… mesmo que nem olhe na nossa direcção?